Conheça a versatilidade do bambu, que é usado na produção de móveis, bicicletas e pode virar até prótese

Planta tem mais de 13 mil usos e movimenta cerca de US$ 60 bilhões no mundo, diz associação. No Brasil, empresas, ONGs e agricultores aproveitam matéria-prima para gerar mais renda no campo. Conheça a versatilidade do bambu
Agricultores, empresas e ONGs têm utilizado o bambu para produzir desde móveis e revestimentos até bicicletas e próteses para uso na medicina. E essa versatilidade da matéria-prima tem gerado renda para muitos produtores no campo.
O Instituto Pindorama, por exemplo, uma ONG que fica em Nova Friburgo (RJ), trabalha com toda a cadeia produtiva do bambu: desde o plantio de mudas, manejo, até o uso em construções rurais.
Por lá, além de cursos, são feitos móveis e revestimentos para vendas sob encomenda.
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“Os cursos de bambu são um dos nossos carros-chefes tanto de movelaria, quanto de construção. E é bem interessante, porque pessoas que nunca colocaram a mão no material ou em ferramentas conseguem ter êxito em fazer as estruturas ou os móveis”, diz Nelson Dias, gerente de projetos do instituto.
Ele, que há cinco anos largou a vida na cidade para se dedicar apenas ao bambu, chegou a construir quase toda a sua casa com a matéria-prima. Mas alerta que, para o uso na construção, o bambu precisa antes passar por um tratamento para garantir a qualidade final da obra.
Para isso, Nelson utiliza duas substâncias permitidas pela Lei de Orgânicos.
“O bambu que é usado na área interna, como os laminados, nós utilizamos somente uma [substância] que é o octaborato de sódio. É um inseticida que altera o gosto do bambu. Assim, quando o caruncho começar a comer, ele vai se sentir incomodado, porque não é o sabor doce que ele está acostumado e ele para de comer”, conta Nelson.
“Já o bambu que vai ser utilizado como coluna, para a construção de estufas de viveiros de galpões, está sujeito a tomar, às vezes, alguma chuva de vento. E, com isso, a gente coloca o sulfato de cobre para garantir que ele não vai apodrecer”, acrescenta.
O gerente da ONG diz ainda que tudo do bambu é aproveitado, até mesmo os galhos.
“Além da vara principal, a gente utiliza os galhos mais compridos para fazer cortina, vassoura e vários tipos de artesanato. Até óculos tem gente que faz”, diz Nelson.
Mais de 13 mil usos
O bambu movimenta cerca de US$ 60 bilhões e emprega 16 milhões de pessoas no mundo, principalmente na China, segundo a Associação Brasileira do Bambu (BambuBR).
Ele é uma planta da família das gramíneas, a mesma do trigo e do arroz, por exemplo. E existem cerca 1.600 espécies no mundo, sendo que 20% delas estão no Brasil.
“Tem estudos que falam que o bambu tem 13 mil usos. Ele atende tanto as necessidades de uma família, de um produtor, quanto de uma indústria, ele tem uma versatilidade enorme”, conta Raquel Reis, presidente da BambuBR.
Prótese e painéis modulares
A versatilidade do bambu tem sido explorada até mesmo em pesquisas acadêmicas. Na Universidade Estadual Paulista (Unesp), por exemplo, o doutorando João Victor Gomes, encontrou na planta uma alternativa de material sustentável e de baixo custo que pode vir a substituir a fibra de carbono, na fabricação de próteses para uso na medicina.
“Chegamos à conclusão de que ela (planta de bambu) chega a ser um quinto do custo convencional das próteses”, afirma João.
Porém, antes de ir para o mercado, a prótese feita a partir do bambu precisa ainda passar por mais testes.
“Uma das coisas que ainda inviabiliza a produção industrial é, de fato, o fornecimento de bambu de qualidade. Essa infraestrutura ainda está sendo avaliada, porque o propósito da prótese é fornecer essa realidade para quem não tem acesso”, diz João.
Já o outro doutorando da Unesp, Gabriel Fernandes, desenvolve painéis modulares com bambu com o intuito também de reduzir custos ao consumidor.
“A gente desenvolveu os painéis modulares pensando na fácil acessibilidade construtiva e financeira. Ele tem um custo 20% abaixo do custo do metro quadrado da construção básica do Estado de São Paulo”, diz Gabriel.
Produção em larga escala
O empresário e agrônomo Danilo Candia trabalha há 13 anos com bambu. Ele tem uma empresa que desenvolve produtos e serviços com o material sediada na cidade de São Paulo.
E, agora, decidiu expandir a sua produção para a indústria. A ideia é fabricar desde bicicletas até as luminárias do artesão Paulo Bustamente, que trabalha com bambu há 22 anos.
“Surgiu essa possibilidade de terceirizar a produção e, como eu vou estar fazendo o treinamento dessas pessoas na oficina, vou poder garantir o mesmo padrão de qualidade do meu trabalho”, diz Paulo.
Para conseguirem produzir em larga escala, Danilo e o seu sócio Daniel Capobianchi, precisaram buscar o bambu em grande quantidade. E conseguiram encontrá-lo no Instituto Jatobás, uma ONG que trabalha com o desenvolvimento sustentável da planta, sediada em Pardinho (SP)
“Eles têm o nohall (conhecimento) da comercialização e de como colocar isso (o bambu) no mercado e transformar em dinheiro. Essa parceria se abraçou e com certeza dará muitos frutos. Muitos frutos de bambu”, diz o coordenador do instituto, Sérgio Vieira.
A Fazenda Bambus, pertencente à ONG, nunca havia sido utilizada de forma comercial. Agora, eles vão começar a trabalhar com seis das 40 espécies de bambu da propriedade.
Renda para pequenos produtores
Mas, além do Instituto Jatobás, a empresa também compra bambu de pequenos produtores. Um deles é o agricultor de André Alves, de Cotia (SP), que trabalha com dois tipos de corte de bambu mossô.
“Um (corte) é para as plantas ornamentais, para colocar em vasos, jardins, jardineira e o outro vai para plantas artificiais”, conta André.
Ele faz o processo para entortar o bambu mossô, uma técnica milenar oriental que o pai dele aprendeu com um japonês e que ele replica há 17 anos.
O bambu que sai do sítio do André viaja até Cunha (SP) para a fábrica da empresa de Danilo. Chegando lá, ele é cortado em tiras e levado para pequenos produtores de uma comunidade rural, que fica a 35 quilômetros da cidade.
Para esta comunidade, aonde moram 40 famílias, a empresa fornece a matéria-prima e paga pela produção de esteiras de bambu.
Geralmente, os produtores precisam ir atrás do bambu, colher e ainda fazer o corte, mas, quando recebem o bambu cortado, o trabalho diminui bastante e é possível dobrar a quantidade de esteiras produzidas por dia.
A partir dessa produção, os agricultores da comunidade conseguiram, há 5 anos, se reestruturar financeiramente. Hoje, eles vendem cerca de 200 esteiras por mês e recebem de R$ 10 a R$ 18 por cada uma delas.
“Nós não tinha (sic) nada. Nós era (sic) pobre, pobre mesmo”, diz a agricultores Alda Ângelo.
“O bambu hoje significa pra mim que eu venci no mundo. É um conforto que eu não tinha, hoje eu tenho”, diz o agricultor Reginaldo de Araújo.
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